domingo, 21 de agosto de 2011

Dia Comum

Ele acordou ao lado daquela pessoa. Aquela pessoa que amava, mas que não reconhecia. Sabia que era ela ali, com seus cabelos desgrenhados, sua boca entreaberta enquanto puxava a respiração do sono. Mas de certa forma, ela mudara. Estava mais forte e mais ríspida. Estava mais cansada, mais fechada para acordos. Estava mais perdida também, assim como ele.
Ela abria lentamente os olhos e o via. Aquele que não conhecia mais. aquele que sabia que um dia fora quem mais amou, mas hoje não passava de alguém que ela odiava e tentava resgatar o passado continuamente. Aquele que a faria ter mais um dia complicado, com suas idéias contrastantes às dela. Com suas palavras duras e sua completa falta de carinho ou atenção singela.
Assim, ambos iam seguindo. Sabiam que eram os mesmos, mas queriam o que o passado levou. O presente não agradava a ambos, e muitas vezes tal fato era explícito em seus olhares e gestos. As reclamações ficavam cada dia mais intensas. O desprezo, a compaixão negativa, a falta de suporte de ambos os matando lentamente, tal como aos frutos daquela união, que pouco a pouco sentiam o calor do afago de ambos cada vez menos efetivo.
Ambos tinham a vontade de acabar com aquilo, de ficar bem, de completarem-se novamente. Mas era impossível. Eram muito diferentes daquilo que fez apaixonarem-se em algum dia distante.
Ele queria muito ter aquela garota prestativa, que era atenta aos mínimos detalhes do humor dele. Que não reclamava dos seus excessos. Que gostava das suas particularidades. que queria aquilo e somente aquilo, sem pedir nada em troca ou tentar moldar ao seu gosto.
Ela queria muito poder ter aquele abraço vago e espontâneo, aquelas palavras sempre carinhosas mesmo quando ela errava. Aquela pessoa paciente e solícita, atêntida e responsável na medida certa. Amorosa, romântica, com brilho de menino no olhar, com todos os sonhos possíveis na cabeça.
Sim, ambos queriam. Mas ambos não sabiam nem como nem por onde começar. Apenas queriam que o dia acabasse, para poderem dormir e sonhar com aqueles de antes... Com aqueles que não voltarão.